sábado, 5 de outubro de 2013

Entrevista


Hoje um amigo meu chegou com uma ligação e uma promessa "hás de ler esta entrevista muito interessante ao (autor X), que te deve interessar". Realmente, interessou-me e, embora discordado com algumas coisas (até porque acho que o autor está a ser generalista com as pessoas que quer criticar), gostaria de transcrever a parte mais interessante e sujeita a debate.

"(...) A literatura é um contar de histórias, como a epopeia de Gilgamesh, na Suméria, o Beowulf, no Norte da Europa, a Bíblia no Médio Oriente. São histórias míticas e reais contadas.

Que sobrevivem por serem bem contadas?
São bem contadas, captam a imaginação. No século xx, por razões que são explicadas neste livro e no próximo, a arte sofre uma mudança importante. Começam a aparecer trabalhos que não procuram a beleza, a narrativa, mas a desconstrução. O cubismo é desconstrução. Ah, uma pintura de Picasso é bonita. Não, não é bonita. Nem Picasso queria que fosse. Ele está a cultivar o feio. Stravinsky faz música que são guinchos. O truque está justamente aí. Isto contagia a literatura. Ler o "Ulisses" do Joyce é um exercício de masoquismo. Ele leva duas páginas a descrever um armário. Isto fazia parte desta corrente, legítima, de desconstruir a narrativa. Em Portugal escrevem-se histórias que são só exercícios de linguagem.

Há excesso de desprezo pelos métodos clássicos?
A Isabel Allende disse-me, bom, esta brincadeira do nouveau roman ia matando a literatura. Tornou-se totalitário. Qualquer autor que se atrevesse a contar histórias era logo objecto de bullying.

Sentiu isso?
Nem é um problema meu. Criou-se esta ideia de que só é literatura o que é exercício de linguagem, mas é falsa.

Mas também pode ser literatura.
Também é literatura, agora não se confina a uma corrente. Tal como a pintura não é só cubismo. Umas são tão válidas como as outras. O problema é que as correntes não admitem a diferença. Não há tolerância em relação a quem não faça exercício de linguagem.

E não é possível combinar ambos?
A literatura também pode ser exercício de linguagem, mas a literatura não se resume a isso. O Saramago dizia-me que o mais importante era a escrita e não a história. OK, é uma corrente. O Umberto Eco disse-me o oposto. A linguagem é um instrumento para contar a história. Os autores que acham que só é literatura o que é exercício de linguagem são autores que estão a fascizar a literatura. É esta a diferença. É óbvio para toda a gente que literatura é também contar histórias."

Entrevista completa AQUI

Curiosamente, esta entrevista articula-se com um artigo que tinha aqui guardado para mostrar no blogue que se dá pelo nome de "4 coisas que a ficção científica tem de ter de volta".

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